por Milena Azevedo

Há seis anos, desde que filmou a biografia de Alexandre, o grande, Oliver Stone só vinha dirigindo documentários. Estar totalmente imerso em temas atuais deve ter feito Stone optar por trazer à vida o personagem Gordon Gekko (pelo qual Michael Douglas ganhou Oscar e Globo de Ouro de Melhor Ator, em 1988), denunciando os bastidores do jogo de poder entre os grandes empresários, a bolsa de valores, os banqueiros e o Estado.

Em Wall Street: o dinheiro nunca dorme, acompanhamos a saída de Gekko da prisão, onde passou 8 anos. Com bastante tempo para refletir sobre sua vida, escreve um livro afirmando que a ganância é algo bom, pois é ela quem move o mundo. O que Gekko não sabe é que sua filha Winnie (Carey Mulligan) está noiva de um corretor da bolsa de valores, o idealista Jacob Moore (Shia LaBeouf), que, assim como ele, sabe fazer o dinheiro girar (nas palavras de Gekko: “um pescador reconhece o outro”). Quando Moore o procura, pedindo ajuda para enfrentar o magnata inescrupuloso Bretton James (Josh Brolin), Gekko vê uma oportunidade de voltar aos negócios e reconquistar o amor de sua filha.

A trama desse segundo Wall Street se passa em 2008, ano em que houve a segunda grande quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, com a Dow Jones caindo vertiginosamente e o Banco Central precisando desesperadamente salvar a economia interna norte-americana, o que provocou uma recessão econômica de ordem mundial. Nesse contexto, Stone teve coragem de mostrar (de forma mais veemente do que fizera em 1987) os jogos de poder entre grandes empresários, banqueiros e investidores, que utilizam a especulação para conseguir seus objetivos escusos, e se recusam a enfrentar as conseqüências de seus atos e arcar com os enormes prejuízos não calculados (e a corda arrebenta principalmente do lado dos mais fracos, a população).

A tríade Moore (investidor idealista e com bom coração) – James (investidor arrogante e especulador , sedento pelo poder que o dinheiro pode comprar) – Gekko (investidor raposa velha, cínico, que trata o dinheiro como uma amante) é perfeita, e mostra que vence não aquele que melhor conhece o mercado, mas aquele que, além de o conhecer, pensa no bem comum.

Oliver Stone fez uma continuação bem melhor do que o filme original, caprichou nos diálogos e na trilha sonora anos 80 (assinada pela dupla David Byrne e Bryan Eno, resgatando inclusive This must be the place, do Talking Heads, da primeira trilha), e, de quebra, humanizou Gordon Gekko, ainda que um lobo em pele de cordeiro. As participações especiais de Frank Langella, Eli Wallach, Susan Sarandon e Charlie Sheen (o Bud Fox, primeiro discípulo de Gekko) engrandecem esse filme que já nasceu espetacular.

Ficha técnica:

Título original: Wall Street – Money Never Sleeps

Direção: Oliver Stone

Gênero: Drama

País: EUA

Ano: 2010