por Milena Azevedo
Em seu mais recente filme, Isabel Coixet aproximou-se da estética e da forma de contar histórias de um dos seus diretores favoritos, o chinês Wong Kar-Wai (Amor à flor da pele) – uma vez que ambos tem predileção por personagens solitários, que geralmente se encontram por acaso, mas que não se permitem amar quem realmente lhes reserva um sentimento mais profundo –, substituindo o silêncio dele por sons de pés andando na rua, metrô seguindo viagem, facas cortando peixes que depois fritam em óleo fervente, pessoas ingerindo ruidosamente o ramen (prato oriental à base de ervas, pedaços de galinha ou porco e noddles), gozo. Sensível ao extremo, sem ser piegas, em Mapa dos sons de Tóquio vemos um trabalho tão maduro quanto A vida secreta das palavras.
Ryu (Rinko Kikuchi) é a heroína do filme. Uma mulher triste e misteriosa que trabalha no mercado de peixe e é assassina de aluguel nos dias de folga; seu remorso pelas pessoas que matou a faz visitar constantemente os cemitérios para cuidar de seus túmulos e lhes fazer oferendas.
Somos apresentados à Ryu pelas palavras do velho (Min Tanaka) que coleta e grava os sons urbanos para depois vendê-los às emissoras de TV e ao cinema. O velho se encanta pela introspecção dela e procura ser seu amigo, gravando as monossilábicas respostas de Ryu às suas perguntas e seguindo seus passos pelas noites luminosas da inebriante capital japonesa. Seus relatos doces, embora envoltos por um leve toque de amargura, nos fazem crer que, apesar de ser uma mulher determinada, Ryu punia a si mesma por não se permitir amar e nem deixar que lhe amassem, contentando-se em ser a sombra de outro amor para obter prazer e um mínimo de felicidade.
O suicídio da filha do poderoso empresário Nagara-san (Takeo Nakahara) é o evento que desencadeia a ligação entre todos os personagens da trama, alterando a vida de cada um deles. Contratada para assassinar o espanhol David (Sergi López), namorado da garota morta, Ryu ouve sua história, aceita ser sua amante e se apaixona por ele, hesitando em cumprir a sua missão, gesto que lhe trará consequências indesejadas.
Coixet vai mapeando, entrecortadamente, os tormentos dos personagens e as ironias de seus encontros, culminando com os remorsos de cada um sobre o que deixaram de fazer para evitar a perda das pessoas as quais queriam bem.
Mapa dos sons de Tóquio não é um filme sobre a cultura nipônica e nem sobre amor, mas sobre culpa, expiação e medo de se deixar levar pelos sentimentos.
Ficha Técnica:
Título Original: Map of the Sounds of Tokyo
País de Origem: Espanha/Japão
Direção: Isabel Coixet
Duração: 109 minutos
Ano: 2009
Gênero: Drama
Sem dúvida, o filme é riquíssimo em sentimentos e sons. Detalhe especial para a trilha sonora, não acha?