Planejar o lançamento de um filme que coloca como foco central a questão ecológica para coincidir com a Conferência sobre Mudanças Climáticas, a COP-15, ocorrida no mês de dezembro, em Copenhagen, na Dinamarca, foi uma estratégia brilhante de James Cameron. A COP-15 mais embromou do que decidiu. Já Avatar mandou o recado de forma direta: a natureza sempre estará além da arrogância do ser humano.
Foram anos de estudos, provas, espera pelo top do top da alta tecnologia para que Cameron pudesse tornar Avatar um filme solidamente tridimensional. Demorou, mas ele o fez. Tomando como referência o ecossistema concebido por Hayao Miyazaki para o mangá Nausicaä, o conceito mitológico maia da Árvore da Vida/Árvore da Ceiba (conhecida no Brasil como Mafumeira, a maior árvore da floresta tropical), além de se auto citar (Aliens – o resgate), em Avatar (2009), temos a história de Jake Sully (Sam Worthington), um soldado paraplégico, cujo irmão gêmeo cientista estava envolvido com pesquisas relacionadas à lua Pandora. Quando o seu irmão é assassinado, ele recebe uma proposta para ir a Pandora e assumir o seu avatar, uma vez que ambos tem o mesmo genoma.
Ao aceitar a missão, Jake desconhece que terá que fazer jogo duplo, estando na equipe dos pesquisadores da Dra. Augustine (Sigourney Weaver), criadora do projetoAvatar (que mescla DNA humano e Na´vi para confeccionar um ser híbrido, possibilitando que os humanos interajam com os nativos de Pandora, apreendendo sua cultura), mas precisando relatar tudo para os militares, que são mercenários interessados em conseguir o valioso minério Unobtanium. Os Na´vi, habitantes e guardiões de Pandora, sabem que os humanos, a quem chamam de “O Povo do Céu”, querem somente se aproveitar dos recursos de sua lua e se rebelam contra eles, até que o avatar de Jake fica perdido na floresta e é salvo por Neytiri (Zoe Saldana), que recebe a missão de instruí-lo a ser um guerreiro Na´vi. Jake encanta-se com o novo mundo que descobre e torna-se uma peça-chave da guerra entre os humanos e suas incríveis máquinas de matar contra os defensores da vida em toda a sua plenitude.
Jake Sully (quase “silly”, bobo, em inglês) representa a nós, os espectadores, totalmente ingênuo, “podado”, sem conhecimento técnico apropriado e que cai literalmente numa floresta bioluminescente, habitada por um povo azul, que também brilha no escuro, cuja relação com o meio ambiente é intensa. É o ser humano perdido, achando que precisa combater e tirar proveito do que se mostra inferior a ele, menosprezando a sapiência e as energias da natureza. À medida que ele vai se inteirando da relação simbiótica existente entre os Na´vi e a flora e a fauna de Pandora, compreende que as partes formam um todo, entrando em equilíbrio por confluir todas as energias em Eywa, a principal entidade que rege a vida naquela lua. Jake começa a sentir essa energia também e de inimigo número um, passa a ser a última esperança dos Na´vi. Porém, como fazê-los acreditar em suas palavras outrora traiçoeiras? A solução escolhida por ele foi recorrer ao mito, o que nos mostra o seu amadurecimento e compreensão da nova sociedade à qual deseja pertencer.
Minha crítica é dirigida à Hollywood por optar, mais uma vez, por um salvador externo, como se os povos autóctones tivessem a necessidade de um guia para mostrá-los o caminho, tal como Mickey Mouse, que chega num país distante e sempre sai com uma parte da riqueza dos habitantes da região porque desvendou um simples caso, complicado demais para as mentes “não-civilizadas”.
James Cameron é um trovador contemporâneo a serviço da tecnologia, criando um mundo próprio, com língua, gestos, códigos de conduta, rituais, vestuário, ornamentos e armas tal qual Tolkien fez em O Senhor dos Aneis, tanto que podemos tomar os Na´vi como uma variação dos elfos.
Embora Avatar seja um filme de forte apelo visual – no qual somos arrebatados por imagens pra lá de surreais, como as Montanhas Aleluia (incríveis rochedos suspensos no ar), uma flora e fauna exóticas (fundindo animais das eras mesozoica e cenozoica com uma mistura high tech e multicolorida de mamíferos e aves atuais), e um lindo balé dos Na´vi, remando ondas de energia ao som da trilha de James Horner e de I See You, canção composta exclusivamente para o filme e interpretada por Leona Lewis –, a mensagem final é atual e necessária: na guerra da tecnologia contra a natureza, vencerá quem não subestimar o adversário.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Avatar
Ano: 2009
Diretor: James Cameron
País: EUA
Duração: 166 minutos
Gênero: aventura
Estou bastante curioso pra ver esse filme. Especialmente a versão 3D.
Tou esperando “secar” mais as filas, lotadas com a molecada de férias, pra aproveitar melhor a experiência. 🙂
O Cameron pensou bem em fazer com que ele estreasse nessa época, realmente. Eu andava me perguntando quando teríamos novamente algum filme que, de alguma forma, trouxesse o problema da destruição causada pelos humanos.
Com todo o respeito, acredito que seria pertinente ao se falar em “mudanças climáticas” assistir um pouco de jornal (fora o material da Net – indico o documentário da BBC intitulado A GRANDE FARSA DO AQUECIMENTO GLOBAL) e saber da informação de que os dados sobre mudanças climáticas eram sistemáticamente manipulados pelo “cientista” chefe das ações institucionais sobre o tema. Um pirata violou o sistema do cidadão, copiou seus e-mails com os colaboradores e mandou para a imprensa.
No mais, sobre a NATUREZA. Nenhum de nós passa dois dias vivos dentro de uma selva, ou um pantanal. A intelectualidade tem uma imaginação muito fértil. Ela idealiza a natureza como sendo o jardim de suas casas.rsrsrsrsPatético rsrsrs
AVATAR é a luta vazia da classe média “esclarecida”.