O mais recente filme de Sofia Coppola, The Bling Ring, remeteu-me imediatamente a uma canção de Kanye West (rapper presente na trilha, por sinal): “toda bolsa, toda blusa, todo bracelete/ Vem com uma etiqueta de preço, lide com isso”. Na verdade, parafraseando Kanye, o verso ficaria melhor com um “vem com uma etiqueta com marca”. O filme se resumiria bem nisso: é o retrato de uma sociedade entorpecida por etiquetas e nomes famosos, que emprestam valor às etiquetas, e as celebridades que, sendo usadas nesse complexo mecanismo, emprestam desejo às etiquetas, bolsas, braceletes.
As personagens de The Bling Ring não estudam, não trabalham, não produzem valor. Elas se produzem, desfilam, idolatram, e são admiradas. Fazem girar a roda do consumo americano, numa proporção infinitamente superior àquela a que estamos acostumados em terras ao sul do Equador (se não estivermos falando do consumo de luxo em pequena escala).
O filme se resume nisso. Mostrar um nicho de vida e tentar justificar, com base nesse retrato, roubos cometidos por uma turma de adolescentes em nome das etiquetas e em função do buraco na segurança das casa das celebridades. Era simples. Casas abertas, itens de vestuário transbordando das gavetas. As meninas e meninos perceberam que poderiam entrar despercebidos e levar o que quisessem.
A diretora Sofia Coppola já havia paquerado o tema – o entorpecimento diante da fama e superexposição – no anterior Um Lugar Qualquer, mas neste The Blig Ring o tom de deboche é escancarado. As entrevistas com os protagonistas dos crimes, que intercalam toda a ação, dão um tom documental ao filme. E atuam não com o objetivo de justificá-los, mas de zombar das intenções patéticas dos personagens. E paradoxalmente, tentando não justificar, Sofia acaba o fazendo. O que se passa na mente do espectador pode ser algo do tipo: como é que gente que é tão estimulada cotidianamente – pela TV, pelos amigos e até pelos pais – a adorar etiquetas, marcas e celebridades, vai escapar de ter um destino tão medíocre?
É interessante, ao final, notar como a ironia da diretora se volta contra ela própria. Afinal de contas, não é essa Sofia um produto daquele meio, filha de um diretor de cinema riquíssimo e uma referência para tendências de moda? Basta lembramos que ela tem uma bolsa Louis Vuitton com o seu nome (ou será uma bolsa Prada?).
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